Como as mulheres usam a moda para se empoderar
- Bárbara Pinto
- 22 de ago. de 2022
- 3 min de leitura
A indecisão que todas temos ao abrir o armário para saber o que vestir não se trata de
“mesquinhez”, como muitos adjetivam. É, sem muitos o saberem, o primeiro passo para ter
um dia bem-sucedido. Não digo que para um dia de sucesso precises de usar as famosas
peças características do closet de todas as “main characters” dos filmes românticos, o tão
sonhado “ball gown” com que todos querem ter a primeira dança, os Manolo blahnik, perfeitos
para dançar à chuva, os óculos escuros da Holly Goligtly ou o típico lenço da Serena Van Der
Woodsen... Posso aconselhar, sim, que vestir quem realmente se é dá uma enorme vantagem
às mulheres que lutam, ainda nos nossos dias, para ter um papel de igualdade perante o
homem na nossa sociedade.
MODA: the female tool towards Empowerment
Muitas são as mulheres que receiam o julgamento, e por vezes a sua condição socioeconómica
e cargo profissional levam a que não se sintam à vontade a usar um tailleur porque é
demasiado chic, um fato-de-treino porque não é adequado ou um vestido com transparências
porque é demasiado revelador. Eu pessoalmente aprecio quem dá o passo de coragem e
desmascara o preconceito que está associado às “girl boss” de atualmente. A moda expressa
quem és, quer sejas mais arrojada, chic, simples, não é o estilo que te define, mas sim a
mensagem que passas com a roupa que vestes, a mensagem sobre qual mulher queres
transmitir ao mundo que és. Ou seja, a verdadeira “girl boss”” empodera-se através da moda,
manipula-a a favor de si própria, a favor de cada situação que enfrenta e das causas que a
preocupam.
Mulheres em todo o mundo têm utilizado o poder da moda para apoiar as suas causas,
denunciar o que não está correto e enfrentar sistemas opressivos. Um exemplo de como a
política e a moda se uniram para encorajar mulheres foi o movimento #Meetoo que fez com
que a voz da denuncia de assédio sexual se repercutisse por todo o mundo trazendo força às
inúmeras vítimas. Um dos principais destaques do infame movimento #MeToo foi quando
celebridades como Oprah Winfrey apareceram no tapete vermelho com um look todo preto
para oferecer o seu apoio contra as injustiças e más práticas dirigidas às mulheres da indústria.
Apesar de ter sido mais recentemente que as vozes de vítimas silenciadas foram encorajadas,
através de fashion movements, a serem ouvidas, pode dizer-se que desde o início do século XX
existiram muitos estilistas que contribuíram também para esta liberdade.
A moda é um espelho da sociedade
O espartilho é a peça mais lembrada, conhecido até hoje por apertar a cintura na finalidade de
afiná-la. E teve o seu fim decretado por Paul Poiret, estilista francês do início do século XX, que
tinha como identidade visual, vestidos helénicos, de tecidos leves e soltos ao corpo. Sendo esta liberdade rapidamente associada à maior autonomia e emancipação feminina até à data.
Acho importante não nos esquecermos de Coco Chanel. É 1924, e esta mulher costureira
consegue abrir uma casa de costura enfrentando um sistema machista noutro continente.
Nessa década apresenta pela primeira vez ao vestuário feminino calças, essas que eram
exclusividade do guarda-roupa masculino. As mulheres começaram a trabalhar em fábricas e a
garantir a sobrevivência de muitas economias, ocupando o lugar do homem.
Também a criação dos smokings femininos de Yves Saint Laurent estimulou a conquista de
lugares importantes pelas mulheres, sendo um avanço positivo e uma forte arma para quem
era contra o desenvolvimento das mesmas na sociedade.
Além de proteger e desenvolver a autoestima, as roupas começaram a passar mensagens de
luta e empoderamento, tendo como exemplo, as t-shirts gravadas com o título do livro “We
should all be feminists” da autora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie. Essas mesmas t-shirts
foram produzidas pela Dior, mais especificamente por Maria Grazia Chiuri, a primeira estilista
mulher da marca feminina anteriormente dirigida apenas por homens em 72 anos de existência.
A moda é um fator de mudança, e as mulheres de hoje sabem que o que vestem não é apenas
roupa, mas sim essa mesma mudança, essa união que se destaca muitas vezes junto dos
agentes internacionais. A confiança que importa para mudar visões e mentalidades pode vir
apenas da invenção de uma peça, de um acessório, de um novo cosmético, utilizados para
enaltecer o potencial feminino com uma maior influência a cada dia, todavia, com um percurso
ainda longo no que toca à representatividade nos principais polos de decisões.
PS: Mas nunca se esqueçam que a roupa não esconde maus caracteres, nem esconde o brilho
que vem de uma alma luminosa.
Words by Bárbara Pinto
Feature image shot by Douglas Kirkland in 1962
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